segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A GRANDE PEREGRINAÇÃO




By Osho

Você poderia dizer algo sobre o perdão?

É uma das coisas mais fundamentais para entender. As pessoas geralmente
pensam que o perdão é para aqueles que são dignos disso, que o merecem. Mas
se alguém o merece, é digno de perdão, isso não é muito um perdão. Você não
está fazendo nada de sua parte, ele o merece. Você não está sendo amoroso e
compassivo. Seu perdão só será autêntico quando até mesmo aqueles que não
merecem, o recebem.

Não se trata de se a pessoa merece ou não. A questão é se seu coração está
preparado ou não.

Recordo-me de uma mística das mais significantes, Rabiya al-Adabiya, uma
mulher Sufi que era conhecida pelo seu comportamento muito excêntrico.
Porém, em todo seu comportamento excêntrico havia um grande insight. Uma
vez, outro místico Sufi Hasan esteve com Rabiya. Devido a que ele ia ficar
com Rabiya, ele não trouxe seu sagrado Corão, que ele costumava ler toda
manhã como parte da disciplina dele. Ele pensou que podia emprestar o
sagrado Corão de Rabiya, assim ele não havia trazido sua própria cópia com
ele.

Pela manhã ele pediu a Rabiya e ela lhe deu a cópia dela. Ele não podia
acreditar no que via. Quando ele abriu o Corão ele viu algo que nenhum
Maometano podia acreditar: em muitas partes Rabiya o tinha corrigido. Isso é
o maior pecado para os Maometanos, o Corão é a palavra de Deus segundo eles.
Como você pode alterá-lo?Como é que você pode até mesmo pensar que pode
melhorá-lo? Ela não apenas o mudou, ela simplesmente eliminou algumas
palavras, algumas linhas – as removeu.

Hasan disse a ela, “Rabiya, alguém destruiu seu Corão!” Rabiya disse, “Não
seja estúpido, ninguém toca em meu Corão. O que você está olhando fui eu que
fiz”. Hasan disse, “Mas como é que você pode fazer uma coisa dessas?” Ela
disse, “Eu tinha que fazê-lo, não havia outro jeito. Por exemplo, veja aqui:
o Corão diz, “Quando você encontrar o diabo, odeie-o”. Desde que me tornei
desperta não posso encontrar nenhum ódio dentro de mim. Mesmo se o diabo
ficar diante de mim só posso banhá-lo com meu amor, porque não tenho mais
nada para dar. Não importa se é Deus ou o diabo que está diante de mim;
ambos irão receber o mesmo amor. Tudo que tenho é amor; ódio desapareceu. No
momento em que o ódio desapareceu de mim eu tinha que efetuar mudanças no
meu livro do sagrado Corão. Se você não o mudou isso simplesmente significa
que você ainda não chegou no espaço onde só o amor permanece.

Eu vou lhe dizer, as pessoas que não merecem, as pessoas que não são dignas,
não faz nenhuma diferença para o homem que chegou no espaço do perdão. Ele
irá perdoar, sem considerar quem o merece. Ele não pode ser tão mesquinho
que só os dignos devem recebê-lo. E onde ele irá encontrar a
implacabilidade? Essa é uma perspectiva totalmente diferente. Não está
relacionado com o outro. Quem é você para julgar se o outro é digno ou
indigno? O próprio julgamento é feio e medíocre.

Sei que Rudolph Hess certamente é um dos maiores criminosos. E o crime dele
se torna um milhão de vezes maior, porque no julgamento de Nuremburg com os
outros companheiros de Adolf Hitler – que matou quase oito milhões de
pessoas na segunda guerra mundial – ele disse diante da corte, “Não me
arrependo de nada!” Não apenas isso, ele também disse, “E se eu pudesse
começar do princípio, eu faria o mesmo novamente”. É muito natural achar que
esse homem não merece perdão; esse será o entendimento comum. Todos irão
concordar com você.

Mas não posso concordar com você. Não importa o que Rudolph Hess tenha
feito, o que ele está dizendo. O que importa é que você é capaz de perdoar
até mesmo ele. Isso irá elevar sua consciência as alturas. Se você não puder
perdoar Rudolph Hess você irá permanecer apenas um ser humano comum, com
todo tipo de julgamento de merecimento, de não merecimento. Mas basicamente
você não pode perdoá-lo porque seu perdão não é suficientemente grande.

Posso perdoar o mundo inteiro pelo simples motivo de que meu perdão é
absoluto; não depende de julgamento. Vou lhe contar uma pequena história
Tibetana que irá tornar o ponto absolutamente claro para você.

Um antigo grande mestre, adorado por milhões de pessoas, recusou-se a
iniciar qualquer um como discípulo. Toda sua vida, consistentemente, reis
lhe pediram, pessoas ricas lhe pediram, grandes ascetas lhe pediram, santos,
para serem iniciados como seus discípulos, e ele continuou recusando. Ele
sempre dizia, “A menos que encontre um homem que o mereça, a menos que
encontre um homem digno disso... Não vou iniciar nenhum Tom, Dick, Harry”.

Ele tinha um jovem que costumava cozinhar para ele, lavar suas roupas,
comprar vegetais no mercado. O próprio garoto lentamente envelheceu, e por
toda sua vida ele escutou o velho homem, que tinha vivido quase cem anos, e
sempre com a negação, sem exceção: ninguém é digno! “Eu vou morrer”, ele
disse, “sem iniciar ninguém, mas não irei iniciar ninguém que seja indigno”.

As pessoas ficaram cansadas, frustradas. Elas amavam o homem, ele tinha
qualidades imensas, mas não podiam entender sua atitude muito teimosa – sem
nenhuma ternura, nenhuma compaixão.

Mas uma manhã, o velho acordou seu companheiro, que já tinha envelhecido, e
lhe disse, “Corra imediatamente morro abaixo até o mercado e diga a todos
que quem quiser ser iniciado deve vir logo, porque nesse entardecer, quando
o sol se pôr eu vou morrer”.

Seu companheiro disse, “Mas e quanto ao merecimento? Não sei quem é digno e
quem é indigno. A quem devo trazer?”

O velho homem disse, “Não se preocupe com isso. Era apenas uma tática,
porque eu mesmo não era digno de iniciar ninguém, mas era contra minha
dignidade dizer isso. Então escolhi outro modo. Estava dizendo, ‘A menos que
encontre alguém bastante digno, bastante merecedor, eu não irei iniciar’. A
verdade é, eu não era digno de ser um mestre. Agora sou, mas o tempo é muito
curto. Somente nessa manhã quando o sol estava surgindo, minha própria
consciência também chegou ao pico supremo. Agora estou pronto. Agora não
importa quem é digno e quem é indigno. O importante agora é que eu sou
digno. Vá e traga qualquer um! Vá e avise a toda a vila que esse é o último
dia da minha vida e qualquer um que queira ser iniciado deve vir
imediatamente. Traga tantos quanto possível”.

O companheiro do velho homem ficou perplexo, mas não havia tempo para
argüir. Ele desceu o morro correndo, chegou ao mercado e gritou por toda a
vila, “Qualquer um que queira ser um discípulo, o velho homem agora está
pronto!”

As pessoas não podiam acreditar nisso. Mas por curiosidade alguns pensaram,
“Não há nenhum problema pelo menos para ver o que está acontecendo”. O homem
havia recusado por toda sua vida e no último dia da sua vida, uma mudança
tão grande de repente. A esposa de alguém tinha falecido e ele estava se
sentindo muito só, então ele pensou, “Isso é bom. Se ele vai iniciar todo
mundo, sem nenhuma questão de merecimento...”. Alguém havia sido libertado
da prisão na noite anterior; ele pensou, “Ninguém vai me dar emprego; isso é
uma boa oportunidade de virar um santo”.

Todo tipo de pessoas estranhas foram para a caverna do velho homem, e seu
companheiro ficou tão embaraçado pelo tipo de pessoas que ele tinha trazido:
Um é criminoso, a esposa de outro havia falecido, é por isso que ele pensa,
“Assim é melhor...agora, fazer o que mais? Alguém tinha ido a falência e
estava pensando em cometer suicídio; agora pensa que isso é melhor que o
suicídio.

Alguns tinham vindo por curiosidade. Eles não tinham nenhum outro trabalho;
eles estavam tocando jazz e pensaram, “Podemos tocar jazz amanhã, mas hoje
não há nenhum problema, vamos ver o que é essa iniciação. De qualquer
maneira, esse homem vai morrer ao entardecer assim estaremos livres para
permanecermos discípulos ou não. Podemos tocar jazz amanhã – não há nenhum
problema”.

O companheiro do velho homem estava se sentindo muito embaraçado, “Como irei
apresentar essa gente estranha quando esse velho homem recusou reis, santos,
sábios, que tinham vindo com profunda seriedade para ser iniciados? E agora
ele vai iniciar esse bando!” Ele estava até mesmo envergonhado, mas ele
entrou e perguntou, “Devo chamar as pessoas? –onze deles estão aí”.

O velho homem disse, “Chame-os rápido, porque já entardeceu. Você demorou
muito tempo e só pode trazer onze pessoas?”

Seu companheiro disse, “O que posso fazer? É um dia de trabalho; não é um
feriado. Só consegui esses. Todos são absolutamente inúteis; mesmo eu não
poderia iniciá-los. Não apenas que eles não sejam dignos – eles são
absolutamente indignos. Porém você insistiu em trazer alguém; ninguém mais
estava disponível”.

O velho homem disse, “Não há nenhum problema. Traga-os para dentro”. E ele
os iniciou a todos. Mesmo eles estavam chocados. E disseram para o velho
homem, “Esse é um comportamento estranho. Toda sua vida você insistiu que a
gente precisa merecer ser um discípulo. O que aconteceu com o seu
principio?”

O velho homem sorriu. Ele disse, “Isso não era um principio, era apenas para
esconder minha própria indignidade. Eu ainda não estava preparado para ser
um mestre. E não posso trapacear ninguém, não posso enganar ninguém; daí eu
ter me ocultado atrás de uma atitude julgadora, que a menos que vocês
mereçam, não conseguirão a iniciação”.

Obviamente ninguém é digno.

Todo mundo tem seus próprios defeitos, fraquezas; todos fizeram coisas que
nunca quiseram fazer. Todo mundo se desviou. Ninguém pode dizer que é
absolutamente puro; todos estão poluídos. Assim quando o velho homem
insistiu, “A menos que você seja digno não volte para mim”, ninguém discutiu
com ele; ele estava certo. Primeiro eles tinham que ser merecedores!

No último dia, ele disse para aqueles onze discípulos, “Eu os abençoou e
inicio vocês. Não importa se vocês são merecedores ou não, mas pela primeira
vez sou digno. E se sou realmente digno, basta minha presença para purificar
vocês. Meu mérito de ser um mestre irá tornar vocês discípulos dignos. Agora
não preciso depender do merecimento de vocês. Meu mérito é suficiente.

“Sou como uma nuvem carregada de chuva; irei banhar todo o lugar – sobre as
montanhas, nas ruas, nas casas, nas fazendas, nos jardins. Irei banhar todo
lugar, porque estou sobrecarregado demais com minha água de chuva. Não
importa se o jardim merece... Não faço qualquer distinção entre o jardim e
as pedras. Irei simplesmente chover a partir da minha abundância”.

Se sua Meditação lhe traz para um estado de nuvem de chuva, você irá perdoar
sem nenhum julgamento a partir da sua abundância, do seu amor, da sua
compaixão.

De fato, gostaria de declarar que o homem que é indigno merece mais do que
aquele que é digno. O homem que não merece, merece mais, porque ele é tão
pobre; não seja duro com ele. A vida tem sido difícil para com ele. Ele se
perdeu; ele tem sofrido por causa de seus atos errados. Agora não seja duro
com ele. Ele precisa de mais amor do que aqueles que são merecedores; ele
precisa de mais perdão do que aqueles que são dignos. Essa deve ser a única
abordagem de um coração religioso.

Essa questão foi trazida perante Gautama Buda, porque ele ia iniciar um
assassino no sannyas – e o assassino não era um assassino comum. Rudolph
Hess não é nada comparado a ele. Seu nome era Angulimal. Angulimal significa
um homem que usa um colar de dedos humanos.

Ele fez a promessa de que mataria mil pessoas; de cada pessoa ele retiraria
um dedo para que ele pudesse lembrar quantos ele havia matado e ele fará um
colar de todos esses dedos. No seu colar de dedos ele já tinha novecentos e
noventa e nove dedos – só um estava faltando. E esse um estava faltando
devido a que sua estrada estava fechada; ninguém passava por esse caminho.
Gautama Buda, porém, entrou naquela estrada fechada. O rei tinha colocado
guardas na estrada para impedir as pessoas, particularmente estrangeiros que
não sabiam que um homem perigoso vivia por trás dos montes. Os guardas
contaram a Gautama Buda, “Essa não é uma estrada para ser usada. Você terá
que tomar um caminho mais longo, mas é melhor ir um pouco mais longe do que
penetrar na boca da própria morte. Esse é o lugar onde Angulimal vive. Até
mesmo o rei não tinha coragem de andar por essa estrada. Esse homem é
simplesmente louco.

“A mãe dele costumava chegar até ele. Ela era a única pessoa que podia ir,
de vez em quando, vê-lo, mas até mesmo ela deixou de ir. A última vez que
ela foi lá ele disse a ela, ‘Agora só está faltando um dedo e apenas porque
você é minha mãe... quero lhe avisar que se você vier outra vez você não
voltará mais. Preciso desesperadamente de um dedo. Até agora não lhe matei
porque outras pessoas estavam disponíveis, mas agora ninguém mais passa por
essa estrada exceto você. Então quero que você saiba que da próxima vez, se
você vir, será sua responsabilidade, não minha’. Desde àquela hora a mãe
dele não veio mais”.

Os guardas disseram a Buda, “Não corra desnecessariamente o risco”. E vocês
sabem o que Buda disse a eles? “Se eu não for então quem irá? Só duas coisas
são possíveis: Ou eu conseguirei mudá-lo, e não posso perder esse desafio;
ou irei provê-lo com mais um dedo para que o desejo dele seja realizado. De
qualquer maneira irei morrer algum dia. Dar minha cabeça para Angulimal será
pelo menos de alguma utilidade; do contrário um dia irei morrer e vocês me
colocarão na pira funerária. Acho que assim é melhor para realizar o desejo
de alguém e lhe dar paz mental. Ou ele irá me matar ou irei matá-lo, mas
esse encontro irá acontecer; vocês apenas mostrem o caminho”.

As pessoas que seguiam Gautama Buda, seus companheiros íntimos que estavam
sempre competindo para estar mais próximo dele, começaram a se afastar. Logo
havia milhas de distância entre Gautama Buda e seus discípulos. Todos eles
queriam ver o que acontecia, mas não queriam estar muito perto.

Angulimal estava sentado sobre sua rocha observando. Ele não podia acreditar
em seus olhos. Um homem muito bonito de um carisma tão imenso estava vindo
em sua direção. Quem seria este homem? Ele nunca tinha ouvido falar de
Gautama Buda, Mas mesmo esse coração duro de Angulimal começou a sentir uma
certa ternura para com esse homem. Ele parecia tão belo, vindo na direção
dele. Era manhã cedo... Uma brisa fresca, e o sol estava surgindo... E os
pássaros estavam cantando e as flores se abriam; e Buda estava chegando cada
vez mais perto.

Finalmente Angulimal, com sua espada desembainhada em suas mãos, gritou,
“Pare!” Gautama Buda estava a alguns metros de distância, e Angulimal disse,
“Não dê outro passo porque então a responsabilidade não será minha. Talvez
você não saiba quem sou!”.

Buda disse, “Você sabe quem você é?”.

Angulimal disse, “Isso não tem importância. Esse não é o lugar nem a hora
para discutir tais coisas. Sua vida está em perigo!”.

Buda disse, “Penso de outra maneira – sua vida é que está em perigo”.

Esse homem disse, “Eu costumava pensar que era louco – você é simplesmente
louco. E você continua chegando mais perto. Assim não diga que matei um
homem inocente. Você parece tão inocente e tão bonito que quero que você
volte. Encontrarei outra pessoa. Posso esperar; não há nenhuma pressa. Se já
consegui novecentos e noventa e nove... é somente mais um, mas não me force
a matá-lo”.

Buda disse, “Você está absolutamente cego. Você não pode ver uma simples
coisa: Eu não estou me movendo na sua direção, você está se movendo na minha
direção”.

Angulimal disse, “Isso é pura maluquice! Qualquer um pode ver que você está
vindo e eu estou parado sobre minha rocha. Não me movi nem uma polegada”.

Buda disse, “Bobagem! A verdade é, desde o dia que me tornei iluminado não
me movi mais nem uma simples polegada. Estou centrado, totalmente centrado,
nenhum movimento. E sua mente está continuamente se movendo em círculos... e
você tem a coragem de me mandar parar. Pare você! Eu já parei muito tempo
atrás”.

Angulimal disse, “Parece que você é impossível, você é incurável. Você está
fadado a ser morto. Irei sentir muito, mas que posso fazer? Nunca tinha
visto um homem tão doido”.

Buda chegou muito perto, e as mãos de Angulimal estavam tremendo. O homem
era tão belo, tão inocente, tão infantil. Ele já estava apaixonado. Ele
matou tanta gente... Ele nunca tinha sentido essa fraqueza; ele nunca tinha
conhecido o que é amor. Pela primeira vez ele estava cheio de amor. Assim
havia uma contradição: a mão estava segurando uma espada para matar a
pessoa, e seu coração estava dizendo, “Ponha a espada de volta na bainha”.

Buda disse, “Estou pronto, mas porque suas mãos estão tremendo? – você é um
grande guerreiro, até mesmo os reis temem você, e sou apenas um pobre
mendigo. Exceto a tigela de esmolas, não tenho mais nada. Você pode me
matar, e me sentirei imensamente satisfeito de que pelo menos minha morte
realiza o desejo de alguém; minha vida tem sido útil, minha morte também tem
sido útil. Mas antes que você corte minha cabeça tenho um pequeno desejo, e
acho que você me concederá um pequeno desejo antes de me matar”.

Diante da morte até mesmo o maior inimigo tem boa vontade de realizar
qualquer desejo.

Angulimal disse, “O que você deseja?”

Buda disse, “Quero que você apenas corte da árvore um galho que esteja cheio
de flores. Nunca mais verei essas flores novamente; quero ver essas flores
bem de perto, sentir a fragrância delas e sua beleza nessa manhã ensolarada,
a glória delas”.

Então Angulimal cortou com sua espada todo um galho cheio de flores. E antes
que ele pudesse dá-lo a Buda, Buda disse, “Isso era somente metade do
desejo; a outra metade é, por favor, ponha o galho de volta na árvore”.

Angulimal disse, “Eu achava desde o começo que você era maluco. Agora este é
o desejo mais louco. Como é que posso colocar esse galho de volta?”

Buda disse, “Se você não pode criar, você não tem o direito de destruir. Se
você não pode dar vida você não tem o direito de dar morte para nenhuma
coisa viva”.

Um momento de silêncio e um momento de transformação... A espada caiu de
suas mãos. Angulimal jogou-se aos pés de Gautama Buda e disse, “Não sei quem
você é, mas quem quer que seja, leve-me para o mesmo espaço onde você se
encontra, me inicie”.

Nesse momento os seguidores de Gautama Buda chegaram cada vez mais perto.
Vendo que agora Buda estava de pé na frente de Angulimal, não havia nenhum
problema, nenhum receio, embora ele precisasse só de um dedo. Eles ficaram
ao redor e quando ele caiu aos pés de Buda eles imediatamente se
aproximaram. Alguém levantou a questão, “Não inicie esse homem, ele é um
assassino. E ele não é um assassino qualquer; ele assassinou novecentos e
noventa e nove pessoas, todos inocentes, todos estrangeiros. Eles não
fizeram nada de errado a ele. Ele nunca os tinha visto antes!”

Buda disse novamente, “Se eu não iniciá-lo, quem irá fazê-lo? E amo esse
homem, amo sua coragem. E posso ver tremendas possibilidades nele: um
simples homem lutando contra o mundo inteiro. Quero esse tipo de pessoa, que
pode enfrentar o mundo inteiro com uma espada; agora ele irá enfrentar o
mundo com uma consciência que é muito mais afiada do que qualquer espada. Eu
lhes disse que um assassinato estava para acontecer, mas não tinha certeza
de quem iria ser assassinado – Ou eu iria ser assassinado, ou Angulimal.
Agora vocês podem ver que Angulimal foi morto. E quem sou eu para julgar?”

Ele iniciou Angulimal.

A questão não é se alguém merece ou não. A questão é se você possui a
consciência, a abundância de amor – assim o perdão irá surgir dele
espontaneamente. Isso não é um cálculo, isso não é aritmética.

Vida é amor, e viver uma vida de amor é a única vida religiosa, a única vida
de oração, paz, a única vida de gratidão, grandeza, esplendor.

Osho, Extraído de: The Great Pilgrimage: From Here to Here, chapter 24

Nenhum comentário:

Postar um comentário