sexta-feira, 5 de março de 2010

INFORMAÇÕES SOBRE A GRIPE SUÍNA, VINDAS DA ESPANHA. PARA SE PENSAR A RESPEITO

Gripe A: Uma reflexão e uma proposta

Ao ler este texto de Teresa Forcades i Vila, monja beneditina do Convento de Montserrat em Barcelona, médica especialista
em Medicina Interna e doutorada em Saúde Pública, ninguém pode deixar de
se interrogar sobre a capacidade dos seus governantes e autoridades de
Saúde Pública do seu país – particularmente Primeiro-Ministro, Ministro
da Saúde e Director-Geral de Saúde – sobre a sua honestidade e o seu
grau dependência em relação aos grandes laboratórios internacionais.



Teresa Forcades i Vila* - 11.10.09

Dados científicos

Os dois primeiros casos conhecidos da nova gripe (vírus A/H1N1, estirpe S-OIV) diagnosticaram-se na Califórnia (EUA) no dia 17 de Abril de 2009 [1].

A nova gripe não é nova por ser do tipo A, nem tampouco por ser do subtipo H1N1: a epidemia de gripe de 1918 foi do tipo A/H1N1 e desde 1977 os vírus A/H1N1 fazem parte da
época da gripe anual [2]; a única coisa que é nova é a estirpe S-OIV [3]
[4].

Cerca de 33% das pessoas maiores de 60 anos parecem ter imunidade a este tipo de vírus da nova gripe [5].

Desde o seu início até 15 de Setembro de 2009, morreram com esta gripe 137 pessoas na Europa e 3.559 em todo o mundo [6]; há que ter em atenção que anualmente morrem na
Europa entre 40.000 e 220.000 pessoas devido à gripe [7].

Como já disseram publicamente reconhecidos profissionais de saúde – entre eles o Dr. Bernard Debré (membro do Conselho Nacional de Ética em França) e o Dr. Juan José
Rodriguez Sendin (presidente da Associação de Colégios Médicos do Estado
espanhol) –, os dados desta temporada, pela qual já passaram os países
do hemisfério Sul, demonstram que a taxa de mortalidade e de
complicações da nova gripe é inferior à da gripe anual [8].

Irregularidades que têm de ser explicadas

Em finais de Janeiro de 2009, a filial austríaca da empresa farmacêutica norte-americana Baxter distribuiu a 16 laboratórios da Áustria, Alemanha, República Checa e
Eslovénia, 72 kg de material para preparar vacinas contra o vírus da
gripe anual; as vacinas tinham de ser administradas à população destes
países durante os meses de Fevereiro e Março; antes que qualquer destas
vacinas fosse administrada, um técnico de laboratório da empresa BioTest
da República Checa decidiu, por sua conta, experimentar as vacinas em
furões, que são os animais que desde 1918 são utilizados para estudar as
vacinas para a gripe; todos os furões vacinados morreram.

Investigou-se então em que consistia exactamente o material enviado pela casa Baxter e descobriu-se que continha vírus vivos da gripe das aves (vírus A/H5N1) combinados
com vírus vivos da gripe anual (vírus A/H3N2). Se esta contaminação não
tivesse sido descoberta a tempo, a pandemia que, sem base real, as
autoridades sanitárias globais (OMS) e nacionais estão a anunciar, seria
agora uma espantosa realidade; esta combinação de vírus vivos pode ser
particularmente letal porque combina um vírus vivo com cerca de 60% de
mortalidade mas pouco contagioso (o vírus da gripe das aves) com um
outro que tem uma mortalidade muito baixa mas com uma grande capacidade
de contágio (o vírus da gripe sazonal) [9].

Em 29 de Abril de 2009, quando apenas tinham passado 12 dias sobre a detecção dos dois primeiros casos da nova gripe, a Drª Margaret Chan, directora-geral da OMS, declarou que
o nível de alerta por perigo de pandemia se encontrava na fase 5 e
mandou que todos os governos dos Estados membros da OMS activassem
planos de emergência e de alerta sanitária máxima; um mês mais tarde, 11
de Junho de 2009, a Drª Chan declarou que no mundo já tínhamos uma
pandemia (fase 6) causada pelo vírus A/H1N1 S-OIV [10]. Como pode fazer
tal declaração quando, de acordo com os dados científicos expostos
acima, a nova gripe é uma realidade mais benigna que a gripe sazonal e,
além disso, não é um vírus novo e ao qual parte da humanidade está
imune?

Pôde declará-lo porque no mês de Maio a OMS tinha alterado a definição de pandemia: antes de Maio de 2009 para poder ser declarada uma pandemia era necessário que por causa
de um agente infeccioso morresse uma proporção significativa da
população. Esta exigência – que é a única que dá sentido à noção clínica
de pandemia e às medidas políticas que lhe estão associadas – foi
eliminada da definição adoptada no mês de Maio de 2009 [11], depois dos
EUA se terem declarado em «estado de emergência sanitária nacional»,
quando em todo o país havia apenas 20 pessoas infectadas com a nova
gripe, e nenhuma delas tinha morrido [12].

Consequências políticas da declaração de «pandemia»

No contexto de uma pandemia é possível declarar a vacinação obrigatória para determinados grupos de pessoas ou, inclusivamente, para o conjunto dos cidadãos [13].

O que é que pode acontecer a uma pessoa que decida não se vacinar? Enquanto a vacinação não for declarada obrigatória não lhe pode acontecer nada; mas se chegasse a
declarar-se a vacinação obrigatória, o Estado tem a obrigação de fazer
cumprir a lei impondo multa ou prisão (no estado de Massachussetts dos
EUA a multa para estes caso pode chegar a 1.000 dólares por cada dia que
passe sem o prevaricador se vacinar) [14].

Perante isto, há quem possa pensar: se me obrigam, vacino-me e já está, a vacina é mais ou menos como a sazonal, também não há para todos…

É preciso que se saiba que há três novidades que fazem com que a vacina da nova gripe seja diferente da vacina da gripe anual: a primeira é que a maioria dos laboratórios
estão a desenhar a vacina de forma que uma só injecção não seja
suficiente e sejam necessárias duas; a OMS recomenda também que não se
deixe de administrar a da gripe sazonal; quem seguir estas recomendações
da OMS expõe-se a ser infectado três vezes e isto é uma novidade que,
teoricamente, multiplica por três os possíveis efeitos secundários,
embora na realidade ninguém saiba que efeitos pode causar, pois nunca
antes se fez assim. A segunda novidade é que alguns dos laboratórios
responsáveis pela vacina decidiram adicionar-lhe coadjuvantes mais
potentes que os utilizados até agora nas vacinas anuais. Os coadjuvantes
são substâncias que se adicionam às vacinas para estimular o sistema
imunitário. A vacina da nova gripe que está a ser fabricada pelo
laboratório Glaxo-Smith-Kline, por exemplo, contém um coadjuvante, AS03,
uma combinação que multiplica por dez a resposta imunitária. O problema
é que ninguém pode assegurar que este estímulo artificial do sistema
imunitário não provoque, passado algum tempo, doenças auto-imunitárias
graves, como a paralisia crescente de Guillain-Barré [15]. E a terceira
novidade que distingue a vacina para a nova gripe da vacina anual, é que
as companhias farmacêuticas que a fabricam estão a exigir que os
Estados assinem acordos que lhes garantam a impunidade no caso das
vacinas terem mais efeitos secundários que os previstos (por exemplo
prevê-se que a paralisia Guillain-Barré venha a afectar 10 pessoas por
cada milhão de vacinados); os EUA já assinaram estes acordos que
garantem, tanto às farmacêuticas como aos políticos, a retirada de
responsabilidade pelos possíveis efeitos secundários da vacina [16].

Uma reflexão

Se o envio de material contaminado fabricado pela Baxter não tivesse sido casualmente descoberto em Janeiro passado, efectivamente, ter-se-ia dado a
gravíssima pandemia potencialmente causadora da morte de milhões de
pessoas que alguns andam a anunciar. É inexplicável a falta de
ressonância política e mediática do que aconteceu em Fevereiro no
laboratório checo. Ainda mais inexplicável o grau de irresponsabilidade
demonstrado pela OMS, pelos governos, pelas agências de controlo e
prevenção de doenças ao declarar uma pandemia e promover um nível de
alerta sanitário máximo sem uma base real. É irresponsável e
inexplicável até extremos inconcebíveis o bilionário investimento saído
do erário público destinado ao fabrico milhões e milhões de doses de
vacina contra uma pandemia inexistente, ao mesmo tempo que não há
dinheiro suficiente para ajudar milhões de pessoas (mais de 5 milhões só
nos EUA) que por causa da crise perderam o seu trabalho e a sua casa.

Enquanto não forem clarificados estes factos, o risco de este Inverno serem distribuídas vacinas contaminadas e o risco de poderem ser adoptadas medidas legais coercivas
para forçar a vacinação, são riscos reais que em caso algum podem ser
desvalorizados.

No caso da gripe continuar tão benigna como até agora, não faz qualquer sentido a exposição ao risco de receber uma vacina contaminada ou o de sofrer uma paralisia
Guillain-Barré.

No caso de a gripe se agravar de forma inesperada, como já há meses anunciam sem qualquer base científica um número surpreendente de altos dirigentes – entre eles a
Directora-Geral da OMS –, e repentinamente, começarem a morrer muito
mais pessoas do que é habitual, ainda terá menos sentido deixar-se
pressionar para ser vacinado, porque uma surpresa assim só poderá
significar duas coisas:

1. Que o vírus da gripe A que agora circula sofreu uma mutação;
2. Que está em circulação outro (ou outros) vírus.

Em qualquer dos casos a vacina que se está a preparar agora não serviria para nada e, tendo em conta o que aconteceu em Janeiro passado com a Baxter, podia ser,
inclusivamente, que servisse de veículo de transmissão da doença.

Uma proposta

A minha proposta é clara:

Além de manter a calma, tomar precauções sensatas para evitar o contágio e não se deixar vacinar, coisa que já se propõem muitas pessoas com senso comum no nosso país
[Espanha].

Apelo a que se active com carácter de urgência os mecanismos legais e de participação cidadã necessários para assegurar de forma rotunda que no nosso país não se
poderá forçar ninguém a vacinar-se contra a sua vontade, e que os que
decidirem livremente vacinar-se não serão privados do direito de exigir
responsabilidades nem do direito de serem economicamente compensados
(eles ou os seus familiares), no caso de a vacina lhes causar uma doença
grave ou a morte.

Notas:
[1] Zimmer SM, Burke, DS. Historical Perspective: Emergence of Influenza A (H1N1) viruses. NEJM, Julio 16, 2009. p. 279
[2] 'The reemergence was probably an accidental release from a laboratory source in the setting of waning population immunity to H1 and N1 antigens',
Zimmer, Burke, op. cit., p. 282
[3] Zimmer, Bunker, op. cit., p. 279
[4] Doshi, Peter. Calibrated response to emerging infections. BMJ 2009;339:b3471
[5] US Centers for Disease Control and Prevention. Serum cross-reactive antibody response to a novel influenza A (H1N1) virus after vaccination with seasonal
influenza vaccine. MMWR 2009; 58: 521-4.
[6] Dados oficiais do Centro Europeu para o controlo e prevenção de doenças (www.ecdc.europa.eu).
[7] Dados oficiais do Centro Europeu para o controlo e prevenção de doenças (www.ecdc.europa.eu)
[8] Cf. Le Journal du Dimanche (25 juliol '09): Debré: 'Cette grippe n'est pas dangereuse'; cf. La Razón (4 septiembre '09): Rodríguez Sendín: Cordura
frente el alarmismo en la prevención de la gripe A
[9] Cf. Virus mix-up by lab could have resulted in pandemic. The Times of India, sección de ciencia, 6 marzo 2009.
[11] Cohen E. When a pandemic isn't a pandemic. CNN, 4 de mayo '09.http://edition.cnn.com/2009/HEALTH/05/04/swine.flu.pandemic/index.html
[12] Doshi Peter Calibrated response to emerging infections VMJ 2009;339:b3471
[13] Falkiner, Keith. Get the rushed flu jab or be jailed. Irish Star Sunday, 13 septiembre '09.
[14] Senate Bill n. 2028: An act relative to pandemic and disaster preparation and response in the commonwealth. 4 agosto '09. Cf. Moore, RT. Critics rage as state prepares for flu
pandemic. 11 septiembre '09. WBUR Boston.
[15] Cf. Vaccination H1N1: méfiance des infirmières. www.syndicat-infirmier.com/Vaccination-H1N1-mefiance-des.htlm
[16] Stobbe, Mark. Legal immunity set for swine flu vaccine makers. Associated Press, 17 Julio '09.

Texto publicado no sítio da Coordenadora Antiprivatização de Saúde Pública, Madrid,
em Setembro de 2009.

* Teresa Forcades i Vila, monja beneditina do Mosteiro de San Benedito em Montserrat, Barcelona, é doutorada em Saúde Pública, especialista em
Medicina Interna pela Universidade de Nova Iorque, autora entre outros
livros de «Los crimines de las grandes compañias farmaceuticas».

Tradução de José Paulo Gascão

Um comentário:

  1. Corina,muito boa essa su apostagem sobre a gripe suina, já mandei cópia par aos amigo se familiares.A postagem é profissiona e direta, não tem nada passional, não parece teoria de conspiração,passa muita confiança.Vivemos numa época onde NADA mais pode ser obrigatório....cada um que faça as suas escolhas desede, é claro que não prejudique ninguém
    um abraço
    Ruth

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